terça-feira, 6 de setembro de 2011

7 de setembro

no último feriado li uma tirinha do PêCê que fazia um comparativo entre feriado na infância e feriado na idade adulta (me incomoda muito criança ter infância, adolescente ter adolescência e adulto ter... nada?): feriado na infância era "eba, mais tempo pra brincar"; e feriado na adultescência era "eba, mais tempo pra dormir".

amanhã é mais um feriado. eba, mais tempo pra dormir.
mas o feriado de 7 de setembro pra mim sempre foi diferente.
isso porque é aniversário de morte do meu avô materno, vô Lando, pros privilegiados.

só pra constar eu acho muito estranho essa parada toda de "aniversário de morte", como se fosse uma comemoração, uma festa. mas eu falo assim porque foi assim que aprendi a falar. sem por quê mesmo.

era um feriado diferente porque a gente sempre ia pra cidadezinha onde minha mãe e meus avós moraram, Espírito Santo do Dourado, MG. Mas antes, a gente passava em algum supermercado e comprava flores. E biscoitão - porque a minha tia Vandinha adorava biscoitão mineiro de Pouso Alegre, MG.

lá, a gente ia revendo um por um, e minha mãe sempre me explicava.
"esse é o irmão do vô lando, a cara dele né?" "ali é a tia tal, irmã de não sei quem, parente de fulano".

confesso que provavelmente não me lembro dos nomes - e não lembro mesmo. mas sei exatamente a localização dos túmulos no cemitério e a foto no epitáfio de cada um.

do lado do vô tem o tio Lando e sempre que a gente passava por lá minha mãe falava do tanto que o Murillo, meu irmão, parecia com o meu tio. "Não tem como negar."
Murillo é o único neto homem e fez a tarefa completa ao carregar em peso todos as características dos Francos. ele é o tio Lando escarrado.

a gente ficava por ali, olhando pras montanhas mais verdes do mundo e pro céu mais lindo e azul do mundo, de cima de um morro. eu ficava quietinha e ia um por um, apertando o olho pra rezar com todo o coração.

no túmulo do tio eu ficava muito triste, e sempre perguntava pra Deus por que eu não tinha conhecido - conhecido de viver. por que eu não tive tio homem.
no túmulo do vô eu tentava viver tudo que minha mãe falava que ele fazia comigo, tentava imaginar com o coração pra ver se a memória resolvia funcionar. mas eu só me frustrava: eu não lembro de nada.

acontece que eu gostava do feriado. era um feriado, de certa forma, em família. e eu esperava muito aquele momento do ano pra ir ver o meu avô. e tentar lembrar tudo o que eu não lembro.

a gente acendia vela na capela do caminho e colocava uma flor em cada ente querido que já tinha ido descansar.
acho que eu não sabia bem o que eu fazia, mas eu sabia bem o que eu queria fazer enquanto estava ali: viver meu avô, aquele me chamava de menor de todas e pra quem eu sussurrava, quietinha - com vergonha de alguém de ver - no túmulo, eu te amo, vô.


Em tempo, citação de um desses livros lindos que - benzadeus - escreveram pra gente passar o tempo:

"É preciso estar vivo para poder morrer. É preciso ter alma para aceitar perder."
Esmir Filho - Os Famosos e Os Duendes Da Morte.