quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A saudade.



Me disseram que dia 30 de janeiro é dia da saudade.

Fiquei quieta, espreitando as mensagens, as imagens e as postagens.

Mas ora, pensei. Dia da saudade é todo dia.
Coração que tem saudade não tem calendário, muito menos agenda com hora marcada.

Recado de saudade não acontece pelo dia no ano, um dia no ano. Choro de saudade, idem.

Saudade é o que fica dos que foram.
É amor, cor, cheiro, pedacinho de alguém, de alguma coisa.

Saudade é certeza de ter acontecido, e é o combustível do coração para o que ele quer que aconteça, de novo.

Saudade é beleza - de amor, de amizade, de cumplicidade. De palavra amiga, de colo quente, de amor novo.

É falta de uma parte que, mesmo com a distância e com o tempo, está amarrado em cada um de nós, através de uma linha invisível. Nunca se deixa soltar, nunca se arrebenta.

Saudade é o que foi dito, e é também o que não foi dito. Não consegui. Não tive coragem. Quase morri (de saudade) sufocada pelas palavras que não foram ditas.

Saudade é muita. Saudade transborda. E transborda tanto que ora é chora, ora é riso.

Saudade é ter tudo no peito, e não ter nada nas mãos.
Saudade é ter tudo, e saudade é não ter nada.

Saudade é ter tudo e nada, e mesmo assim, nem um só dia no calendário.

Saudade, dizem, mata.

Estou morta de saudade, e assim me sinto viva. 

E que saudade de sentir saudade.
E que saudade.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Sopro de alegria.




Tem gente que é um sopro de alegria. 

Tem gente que, pra mim, é um sopro de alegria. 

Sopro de vento frio, de brisa leve, que quando bate no rosto nos dias mais quentes do ano te faz fechar os olhos e sorrir levemente – te faz vivo, te faz atento, te faz sentir. 

É aquela fisgada inconsciente que te tira do chão, por frações de segundos, e que te marca por dias, semanas, ou talvez uma vida inteira. 

Esses sopros de alegria, esses pequenos gestos sem origem e sem direção, são uma dessas coisas que podem passar despercebido porque o calor te deixa irritado, a multidão fala muito alto ou a conta pra pagar está vencida. Mas quando se faz do sopro bem vindo, ele tem o poder de contagiar, e se alojar no rosto, por um instante qualquer, pode se tornar ventania, tufão, furacão... Mudar a sua vida, e talvez a dos outros também.



O sopro, pra mim, foi alguém. Mas pra todos nós podem ser várias outras coisas. 

Um sopro pode vir em formato de tragédia, de renascimento, de promessa...

E então, um sopro é tudo aquilo que de alguma maneira te atinge e te coloca de cabeça para baixo.

No final de tudo – ou no começo de tudo? - o que importa é que ao aceitar o afagar do vento nos cabelos, tudo pode se transformar.









domingo, 6 de janeiro de 2013

Let the impossible happen


Voltar a escrever não estava nas minhas resoluções de Ano Novo. E muito disso, talvez, porque como comentei com uma amiga "o mundo (corporativo, real, individual) tem me deixado mais dura. Sim, mais dura, no nível de responder mensagem com 'ok' e 'falamos'.

O que mudaria isso, e já era de se esperar que fosse algo desse tipo, foi o primeiro filme de 2013.

O Impossível aconteceu e o filme me tocou de uma maneira extraordinária.

Saí do cinema com dois conhecidos rindo, achando que era hollywoodiano demais. E eu saí perplexa, por acredita que aquela foi e ainda é a história de uma das maiores tragédias mundiais. Mais: o que vimos ali, retratado de um jeito hollywoodiano ou não, é somente uma das muitas histórias que foram arrastadas com aquela onda gigante em 26 de dezembro de 2004.

Mais do que a história em si (sem sinopses, porque ainda acredito que esse é o tipo de filme que todo mundo deveria ver, pelo menos uma vez na vida - só pra ticar da lista), o drama ou toda a aflição do trama da história, fica muito claro a fragilidade humana - perante a natureza, o incerto, a incapacidade, a limitação.

Somo tudo, até que não somos nada. E quando não somos nada, não hé cor, religião, língua, instrução, dinheiro ou poder que consegue permear qualquer tipo de emoção, sentimento ou ligação.

É no grau primário de existência, onde somos apenas ser, que somos todos iguais, que sofremos iguais e nos enxergamos dessa maneira - pois assim somos, e somente assim nos resta ser.

Esse é mais um daqueles filmes que nos faz repensar trabalho, relacionamentos, distâncias, desamores e sentimentos... Repensar o que somos e o que fazemos, o que temos e o que queremos, e como isso, de fato, interfere em quem nós somos intimamente, no mais primário grau de existência.

Até porque, independente dos efeitos especiais e do drama exasperado, todos somos.
E para ser, não basta existir. É preciso composição, diária, de uma essência que transcede o grau primário e nos eleva aos outros níveis de existência.

O que compõe cada uma das existências, no entanto, é simplesmente o que acreditamos, e, portanto, tomamos para si.

Seja essa crença possível ou impossível, que 2013 (ad infinitum) seja, para todos nós, um novo ano de crenças. Mais puras, mais solidárias e mais humanas.

Let the impossible happen.