terça-feira, 27 de setembro de 2011

Eureka do amendoim verde

dia desses eu tava comendo e me deu um "plim". ou o que minha mãe me ensinou a chamar de eureka!

eu tava colocando amendoim verde (aquele de boteco, com casca verdade de cebola e salva) num potinho e me lembrei da Tia Cida, dona do bar da frente da Unesp de Bauru, onde eu ia matar a aula e matar o calor.

que os politicamente corretos me perdoem mas sim, eu matava aula no boteco e ia correndo pra chamada quando alguém me ligava.

voltando. tia Cida era a pessoa mais pop da faculdade. todas as áreas iam pra lá. dos alternativos da faac aos meninos da engenharia. sempre tinha alguém. e pra gente, do turno da noite, é claro que tia Cida significava uma roda de conversa (quando não de pagode), cervejinha gelada e, às vezes, um pré balada.

acontece que toda vez que eu chegava na tia Cida eu só olhava, e ela me entendia. sabe gesto que você faz pra pedir cerveja? o meu era pra pedir amendoim verde. e ela entendia, lá do balcão. ela não deve saber meu nome até hoje, mas se eu chegar lá agora, ela vai saber que eu sou a menina do amendoim verde e do "segura ai, tia Cida, que a gente vai responder chamada e já volta pra te pagar."

mas toda essa introdução foi porque eu tava colocando amendoim verde no potinho e pensei (com essas palavras esdrúxulas): "ca-ra-ca. eu não despedi da tia Cida. pode ser que eu nunca mais volte a Bauru, pode ser que eu nunca mais veja a tia Cida, e eu não despedi da tia Cida".

e ai eu comecei a me lembrar de todo mundo pra quem eu não disse tchau, nem até logo.
e fora a tia Cida, tem muita gente pra quem eu gostaria de ter dado um até logo, e não rolou.

afinal de contas, a moça de cabelo vermelho curtinho da biblioteca provavelmente não tem facebook. e eu posso ter perdido a chance de agradecer todas as vezes que ela "esqueceu de expor" um livro novo só porque eu tava torcendo pra pegar primeiro.

ou então da tia da livraria da catina, que além de fazer encomenda de vários livros bizarros que eu pedia, patrocinou alguns eventos enquanto eu trabalhava no DAFAE.

tem o cara do departamento que no dia da entrega do meu tcc quase que pirou junto comigo e no dia da apresentação tava lá me desejando boa sorte antes deu entrar na salinha.

e tem também alguns dos professores e, por mais que você me diga pra deixar de preguiça, pegar o telefone no site do departamento e ligar, são pessoas das quais eu não me despedi.

quem eu não me despedi, também, foi o cobrador do ônibus Campus CTI do meio dia, que eu peguei durante todo primeiro ano, enquanto não tinha carro, pra ir pra aula de alemão, ao 12h45. no final do ano ele sabia o nome da minha cidade e o que eu tava indo fazer na unesp tão cedo. eu, sabia até o nome dos filhos.

mas não só de Bauru vivem as despedidas que não aconteceram. em cada lugar deixamos muito da gente, e às vezes nos esquecemos de como somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos.

foi nesse dia, do eureka do amendoim verde, que eu entendi de verdade - no fundo do coração - porque é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.
e dizer, sempre, isso pra cada uma delas.

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