quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

vende-se silêncio...


segundo recente pesquisa (que de recente, creio eu, não tem nada), os jovens passam, em média, 4 horas por dia na frente da tv.

sei lá eu se eles não têm nada melhor pra fazer, um bom livro pra ler, ou mesmo algo que os incite a sair de frente da telinha. sobre isso, entretanto, Arlindo Machado fala muito bem em seu texto que ilustra o filme mais recente de Masagão: "1,99 - um supermercado que vende palavras".



fica a dica da reflexão e do filme.


"A fala, principal forma de comunicação da humanidade, é substituída aqui por uma afasia fundamental, que reflete o silêncio, a passividade de uma geração que se cala diante das atrocidades. Só as caixas brancas falam, com sua razão inflexível e suas verdades inquestionáveis. Numa época em que consumimos a guerra no sofá, com pizza e Coca Cola no colo, o filme é de uma cruel atualidade, apontando claramente para a condição de imobilidade a que fomos reduzidos." (Arlindo Machado)

Um comentário:

Unknown disse...

É Nina esse é um assunto bem velho...

Isso que o Arlindo Machado diz é perfeito, mas não traz qualquer solução.
O que ele aponta é apenas um efeito, um mero subproduto inconsciente da civilização do medo e da mentira. É muito fácil apontar a consequência, o efeito. Termos ficado mudos, quase apáticos, afáticos, é um fato e isso nem precisa ser dito. Mas quais são as causas? quais são os culpados?

O nosso passado é uma longa história de histeria coletiva. Os noticiários, as "versões oficiais" da realidade, são apenas recortes hipnótico-recorrentes dos tempos idos. A TV serve mais pra afastar os seres humanos de sua natureza e uns dos outros do que qualquer outra coisa. Ela se tornou um mito sagrado a ser confiado, um mito alucinógeno, anestésico. A partir desse mito surgem muitos outros mitos: o mito de como comportar-se; o mito de inconscientemente não se incomodar com as regras impostas pelos poderosos fracassados, que instituem a fé numa justiça absolutamente cega e retrógrada; o mito de se crer apenas nas paixões dissimuladas e nos sorrisos falsos das telenovelas; no mito da hipocrisia pura. Nós nem ao menos temos uma civilização, e a história é o testemunho cabal disso. Nós nascemos humanos e, se formos um pouquinhos espertos, cedo ou tarde nós descobrimos que vamos nos tornando monstros. Monstros que destroem uns aos outros. É muito fácil elogiar a virtude, elogiar os valores belos. Mas inconscientemente todo mundo quer ver o caos e a destruição – e a TV reforça isso. Assistir o Jornal Nacional é no mínimo depressivo. Não dá pra ver nem um minuto sequer, a menos que você goste de muito sangue. Em pleno século XXI, o homem segue acreditando que a guerra e a violência são a melhor forma de resolver conflitos – e a TV continua mostrando isso. A TV ensina que o capital está acima da vida humana, que o homem deve servir ao dinheiro, e não o dinheiro servir ao homem. Como consequência, mais injustiça, mais desequilíbrio, mais exploração inescrupulosa do indivíduo e do meio natural – e a TV reforça isso. Mostrar os fatos não modifica nada, não provoca nenhuma transformação. Fatos se tornam entretenimento. E a raiz é mais profunda, o buraco é sempre mais embaixo – e a TV nunca mostra isso. A própria TV censura a consciência da realidade. É um beco sem saída. Será?
De fato, estamos entretidos por um circo malfalado e inconscientemente pedimos: “me deixe com as minhas correntes sozinho, com a minha própria perturbação. Eu não sou responsável pelo que acontece no mundo, e pelo lixo que a TV mostra do que acontece no mundo.” È o mesmo que dizer que nossas vidas não tem qualquer valor. E a gente vai acreditando nisso. A TV em geral é um insulto à inteligência humana. Um incômodo profundo vai surgindo, porque nós sabemos que não somos aquele lixo. Além de que uma hora nós nos questionamos se aquele emaranhado de entretenimento está nos levando a algum lugar. E se estamos muito entretidos, com muito lixo na cabeça, não temos tempo pra pensar em coisas realmente relevantes, como espiritualidade, liberdade, sabedoria, desenvolvimento social etc. Pra que uma mente não pense nessas coisas ela precisa ser mantida retardada, com muito entretenimento. Com muito barulho. E com tanto barulho, o verdadeiro silêncio, de onde brota a ação correta, não pode existir. A TV é apenas um parque de diversões, um circo barato, um carnaval de comercialização futebolista, um carnaval tragicômico. Ela as vezes alivia o nosso tédio, e outras vezes o reforça. É uma estrada suspensa sem solo fértil, pra nos manter voando, viajando na maionese....
Assim a TV vai ficando cada vez mais real, e nós, cada vez mais irreais.

Mas quem cria a TV? Nós mesmos. Quem dá o seu voto? A chamada civilização. E olha que nós nem mesmo somos ainda uma civilização. Uma vez perguntaram ao grande dramaturgo George Bernard Shaw: “O que você poderia dizer sobre a nossa civilização?” Ele disse: “Que civilização? No dia em que inventarem uma, por favor, você deve me avisar. Então daí eu poderei responder a sua pergunta”. Vivemos na hipocrisia reforçada pela hipocrisia. E todos são os hipócritas: Arlindo Machado é o primeiro da lista, e eu e você também, Nina, e todos os que lêem isso. É facílimo apontar as consequências e criticar. Somos perfeitos idiotas por criticarmos, pois apenas isso não traz nenhum novo valor à vida. Não muda nada. E é extremamente difícil reconhecer os verdadeiros responsáveis, e mesmo as causas. A TV é um palco de ideais estúpidos pra que permanecemos na sempre recorrente miséria e escassez. É fácil falar isso e é fácil dizer que os jovens se calam diante das atrocidades e permanecem sempre em silêncio. Dizer isso tampouco muda qualquer coisa, porque o problema não está no silêncio fora da gente, aquele que acaba quando nós falamos; o problema está no barulho inútil que está dentro. Está tudo invertido. Como é que podemos dizer as coisas certas, se só se tem uma barulheira sem sentido na nossa cabeça?
Precisamos de um silêncio sim, mas o silêncio interior, uma certa intuição. Os interesses investidos não querem de modo algum que esse silêncio seja desperto, porque a fraude deve continuar, o controle e a mentira devem continuar. Toda a nossa história é uma fábula!


Nós idolatramos pessoas “grandes” porque todos estamos ajoelhados. Ajoelhados com um monte de lixo na cabeça. Porque é fácil aceitar o lixo. Não exige esforço. Pra podermos falar DE VERDADE, é preciso que as palavras brotem de um silêncio imperturbável, muito além da corrupção cotidiana, das falácias enlatadas que chegam até nós pela caixa branca. Nossas mentes tagarelas estão entretidas e vertiginosamente confusas com a maré apelativa do caos programado dos noticiários, e da baboseira televisiva incessantemente reprisada. A TV nos dá tantos programas, mas isso é só pra nos deixar inconscientes da nossa força, que está dentro. Como diz Gabriel o Pensador, na sua maravilhosa música "Até Quando?", a programação existe pra te entreter, que é pra você não ver que programado é você! Nós sofremos de uma extensa hipnose patológica. É muito fácil apontar os efeitos. Mas é muito difícil descobrir as causas. E as causas somos nós. Nós somos os responsáveis por aceitar apenas o lixo, um lixo que parece verdade, de tanto ser repetido. Hitler disse: “conte uma mentira milhares de vezes e ela se tornará a verdade”. Assim, depende da gente continuar cultivando o medo e a mentira, que significa inércia, vendo TV, ou ir pra frente, esquecer a história, que é uma completa mentira, e tentar encontrar esse silêncio pra tentar construir um novo futuro. Pois do jeito que as coisas caminham, tudo tende a piorar se ficar apenas como está, repetindo.... Até onde eu posso ver, Gabriel o Pensador é um visionário, apenas com essa música “Até quando?”. Nela ele também diz:
“Muda que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
(...)
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro”

Realmente, o mundo só pode mudar se A GENTE mudar. Não adianta simplesmente sair falando por aí sem qualquer noção do que faz. Dá pra se dizer lindas palavras, mas lindas palavras não encobrem a realidade. Muito menos a alteram. Os grandes revolucionários fizeram isso: Guevara, Marx e etc... mas esses caras não mudaram absolutamente nada. A mentira, o controle, o circo montado na caixa branca, a alienação, continuam. Porque a razão não está no mundo lá fora, a razão está no mundo aqui dentro.

Até quando?
Depende da postura.

Pra mim, uma nova mentalidade deve surgir o mais rápido possível. O caos completo é a maior possibilidade futura, muito mais do que agora, e a TV continua sendo a principal hipnotizadora. A velha mentalidade não funcionou até agora. A velha deve morrer. A velha é o cadáver apodrecido de um passado repugnante.

Vamos tacar a TV pela janela e tentar silenciar! Aqui dentro!