domingo, 22 de janeiro de 2012

Pedro e Ana.

eu fico eu tanto abismada com quanta dor existe no mundo - e fico mais ainda com quanta gente forte existe no mundo pra aguentar essa quantidade de dor.

no feriado de 7 de Setembro de 2010 eu tinha ido de Bauru pra Pouso Alegre e lá teria ficado aproveitando o feriado não fosse uma ligação do RH do HSBC pra uma entrevista em SP. já tinha passado pela triagem de curriculum, dinâmica, entrevista, painel e agora, aquela era a entrevista final. claro que meu feriado tinha ficado em segundo plano.

acordei cedo na sexta feira e fui com meu pai e o Paulo pra SP, pro que duraria no máximo uma hora. "tudo vai valer a pena", dizia meu pai. o GPS começou a dar problema e decidi pegar um táxi pra chegar no Tower, edifício onde o HSBC São Paulo fica. sorte a minha que a motorista era "a" porque tive que trocar de roupa no carro mesmo.

cheguei numa sala e enquanto um me entrevistava aqui, ao vivo, outro, do outro lado da tela, me entrevistava de lá. um em SP e um em Curitiba. o de São Paulo era seco mas não chegava a ser ríspido, me perguntava o que eu sabia de banco e deixei bem claro que NADA era a única resposa sensata no momento. o de Curitiba me olhava rindo, com olhos bondosos, e me pedia pra contar um pouco mais desse Laboratório de Design Solidário.

esse de Curitiba, que me entrevistou no feriado de 7 de Setembro de 2010, não foi meu chefe mas fazia parte da família de Canais Diretos. Era um dos patriarcas e como nós mesmo chamamos, era nosso gênio.

Pedro Alves era tranquilo e sorria com o olho o tempo todo. da entrevista, saiu com um novo apelido pra mim, o de jacianinha (Jaci é a matriarca do RH de Canais Diretos, e um exemplo vivo do que eu quero ser quando eu crescer.). Fui descobrir que ele era casado com a Ana Pereira uns 3 meses depois de estar em Canais, quando num dos nossos almoços mensais (eu, ela e Eric adoramos ir ao Madero almoçar e falar de tudo menos banco), ela citou o Pedro e eu disse, que Pedro? Bingo, Pedro Alves e Ana Pereira eram casados. Um dos patriarcas e uma das matriarcas de Canais Diretos.

Desde que eu cheguei ali percebi que aquilo era diferente e por isso é muito difícil tentar explicar. Canais Diretos é uma família e mais do que funcionários, temos relações de amizades muito fortes, que nos une para além das 8 (ou mais...) horas diárias de convivência.

Terça feira cheguei no trabalho e recebi a notícia de que Pedro tinha sofrido um AVC e de que estava em estado grave. a ausência dos patriarcas e matriarcas não negava: o estado era sério e o sofrimento era quase palpável.

Lembrei do dia em que fizemos uma atividade de arvorismo e que, morrendo de medo de subir num cabo de aço (oi, medo de altura feat. cadê meu chão que tava aqui?), subi com a Ana, ambas se segurando porque afinal de contas, esse era o intuito da atividade, se equilibrar a 20 metros de altura utilizando-se única e exclusivamente do seu parceiro. naquele dia nós duas nos seguramos e vencemos um medo juntas e vou te falar que esse tipo de coisa é o que une as pessoas. quis dizer à Ana que se fosse preciso, para cessar o sofrimento de todos, eu subiria SOZINHA no cabo de aço, quantas vezes fosse preciso, mas não havia nada pra fazer.

Quinta feira, às 14h, o Villela chamou todo mundo da ala e deu a notícia. "Que honra ter podido conviver com esse gênio, e que pena daquele que não o fez". eu nunca vou me esquecer do que é um andar inteiro chorando uníssono a perda de um patriarca, de um amigo, de um mentor, de um exemplo e, também, de um profissional. era uma dor tão grande, mas tão grande, que o todo não parecia suficiente para suportar, e assim se fez luto em Canais Diretos.

no dia da última homenagem ao nosso gênio, cheguei procurando pela Ana e já sabendo que ela havia perguntando de mim. quando me viu, colocou as mãos e os braços em posição de atividade de arvorismo nos meus, juntou a sua testa na minha e me olhou no fundo dos olhos: "você tá me segurando? a gente vai conseguir? você vai me segurar?". entre dor e desespero, vi amor. e olhei de volta no fundo do olho dela, testas coladas pra dizer que "sim, eu estou te segurando, agora e pra sempre, eu e todo mundo que está aqui". depois, me disse que nunca is me esquecer e perguntou "pronta?", a pergunta padrão pra que as atividades se iniciem, e eu sabia que por mais que nós nunca mais estivéssemos inteiro sem o nosso gênio, nós estaríamos sim, prontos e prontas para honrar o seu nome, fazê-lo permanecer imortal entre nós e seguir a vida como a grande família Canais Diretos que somos.

Ana está pronta porque é uma mulher de fibra e forte, dessas que eu também quero ser quando crescer. antes de ir embora eu pedi pelo último beijo e ela me disse, ou melhor, me ordenou, como um mentor que orienta o seu mentorando que nunca me esquecesse, NUNCA, que "foi ele quem me escolheu.".

Ana, a nossa mulher maravilha (e também maravilhosa) e Pedro, nosso gênio, são essas pessoas que eu agradeço diariamente por ter conhecido.
Pedro foi inventar moda lá do outro lado, e imortalizar sua geniosidade e generosidade; e Ana está pronta porque é mulher forte.

Eu fico pronta a acreditar que conviver e conhecer gente assim é um grande presente. E que estar em Curitiba e fazer parte da turma de Canais Diretos, é muito mais do que trabalho: é amor, amizade, honra e exatamente onde eu queria estar.

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