era aniversário da Julia Moretti e a gente tinha ido no supermercado comprar coisas pra fazer lasanha. o pai dela tinha acabado de se separar e tava morando num prédio perto da minha casa, com uma sacada boa e um monte de colchão na sala, do jeito que a gente gosta.
na volta do supermercado a Julia ficou lá embaixo esperando a mocinha do jornalismo na UnB que eu esqueci o nome, e eu subi com a Elisa e com a chave. tentei abrir a porta, mas a chave não rodava, a porta não abria... até que percebi que tava no andar errado, no apartamento errado.
subi correndo e ela foi atrás de mim, rindo, até que a gente chegou no apartamento certo.
lasanha pronta e janta feita, não me lembro de mais nada.
não lembro. lembro de umas fotos que tiramos no dia e até a roupa que eu tava, mas nao lembro do que fizemos - que filme vimos, que música cantamos, sobre o que falamos...
mas ela tava lá, com o sorriso tão puro e tão fácil, com jeito de quem não magoa, de quem não fere.
o que houve, então, pra que se ferisse assim, de forma tão grave?
Elisa, a menina da rua de cima da casa da Julia, de fala mansa e sorriso fácil se foi. se foi porque quis ou porque quiseram. mas se foi.
virou fruta daquele tipo de fruta que é flor.
e que assim seja, pra sempre.
amém.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Questão de sobrevivência
Quebrei a abstinência do cinema com um que vale a pena. A Pele Que Habito, de Almodóvar, é a prova de que o diretor consegue, a cada filme, se reinventar e superar na arte de chocar.
Ele, que materializa o tipo de filme que meu pai chama de "não assistiria isso com você", poupou-nos dos escândalos deslavados como em Tudo Sobre Minha Mãe e, dessa vez, choca por dentro, no íntimo, no que é de cada um, e só de cada um.

Almodóvar que, pra mim, sempre soube trabalhar as personagens femininas com muita delicadeza, como se as tivesse na palma da mão, traz companhia e representa, nesse último filme, a humanidade inteira empinhocada entre os dedos.
No fim, a mensagem é clara - e que pena que precisamos resgatar de forma tão brusca algo que deveria ser tão claro.
Independente de suas mudanças, do que o mundo faz com você ou do que você faz com o mundo, a sua essência, o seu interior, e o que há de mais íntimo, é o que te caracteriza. É isso que te faz como é.
Lutar pra perservar o íntimo individual é muito mais do que vaidade, é uma questão de sobrevivência. Cada vez mais cotidiana.
Ele, que materializa o tipo de filme que meu pai chama de "não assistiria isso com você", poupou-nos dos escândalos deslavados como em Tudo Sobre Minha Mãe e, dessa vez, choca por dentro, no íntimo, no que é de cada um, e só de cada um.

Almodóvar que, pra mim, sempre soube trabalhar as personagens femininas com muita delicadeza, como se as tivesse na palma da mão, traz companhia e representa, nesse último filme, a humanidade inteira empinhocada entre os dedos.
No fim, a mensagem é clara - e que pena que precisamos resgatar de forma tão brusca algo que deveria ser tão claro.
Independente de suas mudanças, do que o mundo faz com você ou do que você faz com o mundo, a sua essência, o seu interior, e o que há de mais íntimo, é o que te caracteriza. É isso que te faz como é.
Lutar pra perservar o íntimo individual é muito mais do que vaidade, é uma questão de sobrevivência. Cada vez mais cotidiana.
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