domingo, 24 de fevereiro de 2008

meus lares...


fazer a mala é algo tão simples - ou não tão simples assim. de alguns, requer um esforço mínimo físico e pronto. zuum. o zíper fecha.

pra outros, além de listas e dias de atencedência, a mala tem significado especial.
e eu não me refiro aos previnidos. refiro-me àqueles que, assim como eu, vêm um empacotamento de tempo, espaço, vivências, estórias e histórias. a vó que vai junto com o seu doce, a amiga que vai junto naquela carta ou mesmo a chuva do dia em que comprou-se aquele livro ali, no cantinho das meias.

tenho duas casas: uma cheira a comida de mãe, casa de vó, sessão da tarde e madrugadas a fora ovindo o barulho da calha estrategicamente colocada na minha janela e saudade;
a outra cheira a amizades, visitas sem batida na porta, fotos na parede, estudos noturnos, festas, cafeína e saudade.


embora, fisicamente, possa viver nesses dois lugares, minha 'morada' não se restringe a eles.
...tenho, sim, duas casas.

mas meus lares - ah, meus lares... - esses são infinitos.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

vende-se silêncio...


segundo recente pesquisa (que de recente, creio eu, não tem nada), os jovens passam, em média, 4 horas por dia na frente da tv.

sei lá eu se eles não têm nada melhor pra fazer, um bom livro pra ler, ou mesmo algo que os incite a sair de frente da telinha. sobre isso, entretanto, Arlindo Machado fala muito bem em seu texto que ilustra o filme mais recente de Masagão: "1,99 - um supermercado que vende palavras".



fica a dica da reflexão e do filme.


"A fala, principal forma de comunicação da humanidade, é substituída aqui por uma afasia fundamental, que reflete o silêncio, a passividade de uma geração que se cala diante das atrocidades. Só as caixas brancas falam, com sua razão inflexível e suas verdades inquestionáveis. Numa época em que consumimos a guerra no sofá, com pizza e Coca Cola no colo, o filme é de uma cruel atualidade, apontando claramente para a condição de imobilidade a que fomos reduzidos." (Arlindo Machado)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

tão sutil...


reinado de Luís VIX, século XVIII, palácio de Versailles.


os tão exuberantes bailes eram marcados por vestidos com saias de armações enormes; penteados de cabelo que, muitas vezes, de tão altos, tinham a altura do vestido; e uma sedução sutil: as pintas.

pinta ao lado do olho significava "apaixonada";
nas maçãs no rosto, "travessa";
nos lábios, "disposta a flerte".

mais sobre a sutileza do que sobre a sensualidade.




Noite de natal...



"Fernando Silva dirige o hospital de crianças, em Manágua.
Na véspera do Natal, ficou trabalhando até muio tarde. Os foguetes espocavam e os fogos de artifício começavam a iluminar o céu quando Fernando decidiu ir embora. Em casa, esperavam com ele para festejar.

Fez um último percorrido pelas salas, vendo se tudo ficava em ordem, e estava nessa quando sentiu que passos o seguiam. Passos de algodão: virou e descobriu que um dos doentinhos andava atrás dele. Na penumbra, reconheceu-o. Era um menino que estava sozinho. Fernando reconheceu sua cara marcada pela morte e aqueles olhos que pediam desculpas, ou talvez pedissem licença.
Fernando aproximou-se e o menino roçou-o com a mão:
- Diga para... - sussurou o menino. - Diga para alguém que eu estou aqui."

(Eduardo Galeano)

só pude, então, fechar o livro e me contentar com minha perplexidade...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

tudo ou nada



"Porque o que é perfeito não precisa de nada"

(Alberto Caeiro)

nada :


do Lat. nata de nulla res nata

s. m.,
a não existência;
ausência de quantidade;
coisa nenhuma;
inanidade;
ninharia, bagatela, inutilidade;
pron. indef.,
nenhuma coisa: Nadafoi feito para salvar as espécies em extinção.;
adv.,
não, de modo nenhum.

ah, como eu, boa humana,...

preciso de tudo!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

filhos e amor e sonhos...


"Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!"
Poema Enjoadinho - Vinícius de Moares.


e enquanto vinícius
fala de filhos,
eu usaria suas palavras,
tranqüilamente,
para falar de amor.
ou de sonhos.
ou de ambos.

E eu...


"estou exatamente onde queria estar"
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças



se eu soubesse onde estaria,
com quem estaria....
quem sabe, assim, o começo fosse mais fácil.



eu não soube onde estaria;
e muitas vezes não quis - saber ou estar.
foi muito mais saboroso desse jeito.



(de coração a: nati, geisa e fá.)

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Tempestade em copo d'água...

(ilustração: 'tudo sobre minha mãe')

- já reparou que a gente cresce mais quando tá nunca situação difícil? ou em crise?

- já reparou que quando a gente tá feliz demais... a gente tá feliz demais pra reparar o quanto mais pode crescer?


Pode entrar...


- só não repara a bagunça.




- reparo não.
eu reparo é o sorriso;
eu reparo é o olhar;
o que vale é o que tá dentro; (paixão ou amor, quem sabe.)
e o que sai - em forma de abraço.

Por quê...

(imagem de Wu Guanzhong)
- por que as flores e os frutos são sempre mais coloridos que o caule?
- porque o caule sempre reserva o seu melhor para doar aos outros....

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Dom Quixote que se cuide...


"... No fundo de um cárcere foi concebido o Dom Quixote, o mais andante dos cavaleiros."

Eduardo Galeano


e lá longe, onde cavalo é meio de transporte e globalização é um aparelho embutido em telhado de casa, a gente é mais gente pelo suor cotidiano; pelo sofrimento com sorriso; e pelo sorriso sempre estampado.



a impressão que dá é a de que não são eles que passam pela vida; é a vida que passa por eles.